terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sinapses perigosas

É engraçado como o cérebro da gente funciona né? Por vezes uma coisinha que a gente lê em um canto de jornal nos faz pensar em uma coisa que puxa outra coisa que acaba por nos levar a uma viagem quase que sem fim. Isso aconteceu comigo essa semana. A coisinha que li, foi a declaração de um parlamentar italiano, ainda por conta do caso do italiano do PAC. O parlamentar em questão disse que o Brasil é reconhecido por suas dançarinas, não pelos seus juristas.
Bem, confesso que, como brasileiro, minha primeira reação foi "mas que FDP!" Mas antes mesmo que eu chegasse a tanto, meu cérebro começou a fazer sinapses e afins, e aconteceu o dito processo de informações, aparentemente sem relações, que tomou conta de mim.
Primeiro lembrei-me de uma aula que aconteceu umas duas semanas atrás. O sujeito estava a falar dos prêmio nobel do Japão. Sabe como é, meu japonês não é lá essas coisas, e eu não consigo entender 100% do que eles falam, mas em determinado momento o cara falou que o Japão tinha 3 prêmios nobel. Eu me assustei e perguntei "mas só três?" e ele repetiu uma informação que eu, aparentemente não havia entendido bem "Kotoshi" - traduzindo - "esse ano." Aí para humihar ele perguntou "e o Brasil?" e eu disse, "nenhum" , e ele para humilhar um pouco mais, não, não estou perguntando esse ano, to perguntando no geral, ao todo", e eu retruquei "nenhum."
Depois dessa lembrança meu cérebro e levou a uma mais alegre. Há muito tempo atrás minha sobrinha me disse para procurar uns vídeos de um programa de humor novo, bem, para mim nivo porque quando eu saí do Brasil não existia, um tal de CQC. Eu esqueci desse troço, mas outro dia, atingido pela monotonia das férias, lembrei-me de procurar. O dito programa tinha vários vídeos no youtube, alguns de uma série que era um "teste de honestidade" Um sujeito ia andando pelas ruas das cidades e "perdia"uma nota de 50,00. A câmera ia filmando, mostrava que as pessoas viam claramente que a nota caiu do bolso do sujeito, e depois filmava a reação das pessoas, vai devolver a nota ou não. Bem, um dos testes foi em Brasília, ficou meio a meio, mas uma das pessoas que não devolveu foi um grupo de 4 policiais militares... No Rio, de umas cinco tentativas, só um velhinho devolveu a grana... A maioria esmagadora embolsou o dinheiro.
Por fim, seguindo as sinapses malucas, minha cabeça foi para um texto que li há um tempo atrás de um filósofo francês, Edgar Morin. No texto ele fala das sete coisas essencias que se deve ensinar para que as pessoas possam viver no século XXI. Uma das coisas, segundo o autor, é ensinar as pessoas a ver o auto-engano. Segundo ele o nosso cérebro, sempre ele, por vezes "mente" pra gente, para nos proteger, Aí constrói uma imagem da gente mesmo que não corresponde muito a realidade. Por vezes se esquece de fatos, ou os lembra de maneira mais favoráveis a nós...
Bem, sabe, eu acho que nós, como povo, sofremos um pouco isso. Na TV, nos livros, nas ruas, a gente pensa no Brasileiro como o povo alegre e trabalhador, terra das mulheres mais bonitas do mundo, das praias mais legais, da comida mais gostosa e do povo mais criativo. Um país que tem tudo para dar certo, mas por conta de uns políticos mal intencionados não vai para a frente. Eu acho que não é nada disso. Somos um povo como qualquer outro, tão criativos como os outros, tão trabalhadores como os outros. O tal teste só nos mostra que os políticos, como já sabíamos, são só o reflexo de nós mesmos,um povo que acha normal a desonestidade. Acho que o nosso problema é o auto-engano. Enquanto a gente não entender isso, não adianta. Enquanto confiarmos na nossa esperteza e no nosso poder de improvisação, na nossa "criatividade" vamos continuar sendo o que somos: um ods tantos países em "desenvolvimento." Paulo Prado já disse, cem anos atrás, que somos o povo mais triste do mundo, junção das 3 raças tristes, o português, o mais melancólico dos povos europeus, o africano, triste por estar escravizado longe de sua terra e o índio, triste porque sua terra foi destruídas e suas mulheres estupradas. A nossa alegria é só fachada, mecanismo de defesa. Enfim, ou o Brasil deita do divã e faz uma análise de si, ou continuará a produzir somente dançarinas, eufemismo empregado pelo parlamentar em questão para não dizer prostitutas. Precisamos de menos dançarinas e mais juristas, mais cientistas, alguns Nobel. Quando eu era criança diziam que o Brasil seria o país do futuro. Não é.


PS: Desculpem pelo texto longo e sério, mas enfim, tem dia que sai assim!

Respondendo:

Pri: É eu dei aula no EJA, sei bem como é...

Larissa: falei de vc hoje viu?

Flavinho: Obrigado pelo seu comentário, especialmente a última parte, de menos diplomatas Vi...

4 comentários:

Dinofours disse...

nao falou nada mais que a verdade.
ontem foi o primeiro dia de aula la no senior deibido-sensei... quem diria que vc era meu profesor no 1ª ano... agora estamos no último e decisivo ano!

Pri disse...

Não sei se vc viu uma notícia de 3 turistas velhinhos europeus (não me lembro de onde) tiraram a roupa no meio do saguão do aeroporto de salvador pra trocar de roupa. Se defenderam dizendo que achavam que isso era normal aqui no Brasil...lógico...vendemos uma imagem de país de férias!

Koběluš disse...

excelente texto sensei,
gostei da visão do Paulo Prado.
ahhh...amanhã é teu aniversário!Parabéns desde já, pq eu nao sei se vou poder entrar na net
abraço professor

Unknown disse...

Parabéns David!!!
Estou te acompanhando apesar de não estar postando nenhum comentário por absoluta falta de tempo...Estou fazendo a adaptação da Júlia na escola...Não é refresco não. Quanto aos comentários de sinapses perigosas concordo que os brasileiros têm uma visão distorcida da realidade e que muitas vezes é cega para perceber o quanto temos que evoluir...
No que se refere à ladainha da corrupção dos políticos é outra balela...Afinal é a Câmara e o Senado é uma amostragem do próprio povo...com bons e maus elementos.
Mas afinal, estou te escrevendo para dizer que aqui hoje está uma sol maravilhoso, com um céu lindo e acho que vc adoraria andar no parque. Vou te abraçar quando vc chegar. Beijos!
Chris.