domingo, 28 de setembro de 2008

Mundo, mundo, vasto mundo.


Uma das coisas que aprendi aqui no Japão é que definitivamente vivemos em um mundo muito vasto. A partir daí aprendi que há tantas coisas para se aprender... Veja essa foto ao lado por exemplo. Da esquerda para a direita temos Wasana (Sri Lanka) Monika (Polônia) Eu (Flamengo) Krystof (Polônia) Bharti (Índia) e Shruti (Índia). Essa foto marcava a despedida da Shruti, que faz parte de um programa de bolsas diferente do nosso e que por isso só ficou aqui por um ano. Já tem gente indo embora. Fomos nesse dia a um restaurante indiano. Nunca tinha ido a um restaurante indiano antes, na verdade no Brasil não é muito comum a frase "e aí, vamos a um restaurante indiano hoje?"talvez porque a Índia fique longe demais, talvez porque a comida leve pimenta demais, talvez simplesmente porque não há indianos demais no Brasil, não sei. Mas aqui é comum. Há muitos indianos e restaurantes indianos. Achei fantástico. A comida é boa, mas o que eu gostei mesmo foi de comer com as mãos. Quando você está em um restaurante com amigos, e mesmo assim tem a liberdade de comer com as mãos - que devem ser lavadas antes - parece que se cria um clima de intimidade que o garfo e faca não permitem. Quando se come com as mãos, não há barreiras sociais e bons modos inibindo seu jeito de ser, ninguém fica preocupado com a maneira de se segurar o garfo ou de se cortar a carne, até porque comida indiana que se preze não tem carne mesmo. Eu poderia dizer que comer com as mãos me deixou mais perto dos meus ancestrais tupi-guarani perdidos, mas não preciso ir tão longe, minha avó adorava comer com as mãos. E de pé. Aprendi a comer comida indiana.
Mas aprendi também a fazer. Nesse dia aprendi a fazer um pão parecido com o pão sírio, só que versão indiana. Comi no restaurante e adorei, depois fomos até a casa da Bharti, que é perto do restaurante, e ela me ensinou a fazer o pão. Fácil, rápido, saudável e gostoso. Qualquer dia faço para vocês. Mas desse vasto mundo também aprendi algumas lições sobre casamento.
Aprendi que os casamentos arranjados ainda continuam valendo a todo vapor. Uma coisa é ler sobre isso, outra é ver na prática como afeta a vida das pessoas. Shruti é da casta mais alta lá na Índia, como são quase todos os indianos que ganham bolsa de estudos. Ela tem um probleminha pra resolver - seus pais já estão procurando o seu marido mas ela se apaixonou pelo polonês da foto. É claro que seus pais não sabem disso, porque não vão gostar nada de saber que sua filha planeja se casar com um branquelo não indiano. Por essas e outras ela nem fica perto dele nas fotos. Se ficar na Índia, ela não tem muita escolha, tem de deixar esse negócio de amor de lado e se casar com quem seus pais mandarem. Bem, o jeito que ela arranjou por enquanto foi fazer o mestrado aqui, ela volta em Março. Com isso ganhou um pouco mais de tempo. Mas ainda vai ter de enfrentar as feras mais cedo ou mais tarde.
Ainda sobre casamentos aprendi também que no Sri Lanka - antigo Ceilão para os mais velhos - o sistema de castas e casamentos arranjados vale. Wasana rebelou-se e se casou por amor com um homem de uma casta inferior. Ontem eu a encontrei com um amigo que faz doutorado aqui. Eles estavam em em uma loja de departamentos. Ela me disse que estava ajudando o amigo a escolher um presente para a noiva dele, já que o amigo vai se casar no fim do mês de Outubro. Aquilo me pareceu estranho, afinal se você vai se casar com uma mulher deve pelo menos saber comprar um presentinho para ela. Liguei para a Wasana depois e ela me confirmou - casamento arranjado - ele nunca viu a noiva. Só por foto.
Eu acho que o sistema de casamento arranjados é o sonho de toda mãe. Uma sociedade em que elas pudessem escolher as noivas e noivos dos filhos e filhas seria o paraíso para 99 por cento das mães no Brasil. Só tem um probleminha, esses casamentos não levam em conta o amor. Logo, a questão que se coloca é: o amor importa? Para mim sim, mas isso é questão pessoal, cada cabeça pensa como quer, e outra coisinha que aprendi, não aqui, mas há muito tempo atrás, é que cada cabeça é um mundo. Mas como disse o poeta, , mundo, mundo vasto mundo, muito mais vasto é o meu coração.

Respondendo:

Beijos pra Tia Nanci.

3 comentários:

Koběluš disse...

Complicado, cara!
mas é a vida, cada cultura é do seu jeito.
Outro dia tava falando com o Eddris e ele me falou de uma Tcheca, a mulher mais linda que ele já viu. Ela não dava bola pra ninguém.
Os tchecos são muito fechados, na embaixada as secretárias não podem falar outra língua que não seja o português, pois eles gostam de passar conversando e não querem que ninguém saiba do que se trata.
Meu avô já não é assim, mas o tchecos da embaixada tem muito orgulho. Como num rodízio que eu fui com o povo da embaixada, o embaixador começou a fazer um discurso em tcheco, sendo que a maioria era brasileiro.
Meio extranho, mas cada cultura tem sua loucura.
Casamento arranjado é muito difícil, acho que os pais são a favor por terem passado por isso. Se eu vivesse em um país desses com certeza eu estaria com os revoltosos.
abraço

Thaís Batalha . disse...

Cara, se tem um lugar que eu sou louca para conhecer, esse lugar é Índia (Dubai também.) Eu acharia incrível conhcer um país como aquele, inclusive pela parte pobre. Cultura é cultura, não se discuti, cada um tem seu ponto de vista. Viva a divergência. E o lado espiritual deles? Incrível, não?! Ir para igreja e... Bom, vocÊ deve saber do que estou falando. kakakakaakka
Deve mesmo ser boa a comida, taí, quando você chegar quero um pão sírio, ok? ;D
Beijos

Tudo Bonito disse...

saudade de vc bicho.
beijao.