Empurrando a velhinha com gosto

Eu nunca fui um bom fisionomista. E nunca tive uma boa memória também. Muitas vezes eu encontro alguém que acho que já conheço, mas nunca tenho certeza. Aí o povo acha que eu sou metido, porque não falei com fulano, ciclano. Agora imagine aí um rapaz que é um péssimo fisionomista morando no Japão. E some aí também o aperreio que é ter péssima memória em um país onde é deselegante, quase uma falta de respeito, chamar as pessoas de "você"há de se chamá-las pelo nome...
Bom, outro dia fio no supermercado aqui, e na hora de pagar, uma das caixas, (é que aqui por vezes, duas pessoas ficam no caixa, uma vai passando as compras e a outra fica pra receber a grana), pois bem, uma das caixas, uma mocinha de seus 20 e poucos anos, como diria meu avô, bem afeiçoada, sorriu pra mim de um jeito diferente. Bem, eu, um rapaz educado, sorri de volta, e voltei pra casa orgulhoso, coisa e tal. Acontece que a tal japinha era a estudante que voluntariamente ajuda a gente nas aulas de japonês toda quinta feira. Aí na aula ela fala pra mim "Dabi san, a gente se encontrou no supermercado né"e eu "e é" "É, no supermercado onde eu trabalho!" E eu "Hum, ah é, verdade...." Agora eu fico aterrorizado, porque todo japa que eu vejo eu acho que conheço de algum lugar, mas é que todos ainda são para mim tão parecidos... E pra lembrar os nome? Nunca lembro. Tem uns koreanos aqui, são meus amigos, falam sempre comigo, e eu não sei o nome. E agora é chato perguntar né. A menina é minha vizinha, coisa e tal, e eu não sei o nome. Toda vez que vou falar com ela é uma agonia, porque eu deveria começar "FULANA SAN, como estão as coisas, pá e tal" mas como eu não sei o nome dela eu digo "ã" essa parte bem baixinho, e "SAN" bem forte, mas acho que ela já sacou que eu esqueci o nome dela... Alguns nomes são fáceis de decorar, tipo a tailandesa chama-se SAI. Pô, não é difícil pra um brasileiro decorar SAI né? Aliás esse negócio de palavras e nome é engraçado. Outro dia falei aqui do Karai, que significa apimentado. Bom, sexta fui atrás de um telefone celular, mas queria pré-pago. Aí eu te pergunto, como é telefone celular pré-pago em japonês? Pri PEIDO keitai. Pô, dá um tempo, Pri PEIDO???? Pra ser mais educado eu vou pedir um pri FLATUS. (entendeu aí, flatus, de flatulência, sacou? Quê, não sabe o que é flatulência? Apimentado véi!)
Aliás como vocês podem ver mudei de nome de novo aqui no Japão. É que tive de fazer alteração de endereço nos documentos, aí a moça me perguntou, "como é seu nome?" Eu, chateado com aquela história de deibido, falei, "olha, no meu país, fala-se DAVI, mas esreve-se DAVID" aí ela muito compreensiva disse, ah, então vamos escrever como se fala" aí eu me transformei em DaBI San. É, sabe como é, nem tudo é perfeito, os caras não tem o som do V aqui, então vai de DaBI mesmo...
Hoje as quatro e meia da tarde eu tava fazendo a minha faxina de sábado e a campanhia tocou. Era a tailandesa. Disse-me que o supermercado aqui perto faz promoções aos sábados, com tudo metade do preço a partir das 17:00. Eu falei, "beleza, vamos lá, mas ainda são 16:30, a gente pode ir mais tarde..." Hum, ingênuo eu. Tolinho. As velhinhas japonesas vão ao supermercado já as 16:30, e escolhem tudo. As carnes, os peixes, parece aquelas cenas de esfomeados africanos correndo atrás de pacote jogado de avião humanitário da ONU. O pior é que você tem de esquecer tudo o que aprendeu em relação ao respeito aos mais velhos, porque as velhinhas jogam sujo. Muito sujo. Dão cotoveladas, passam na frente, pisam no pé, e eu, pra me defender, tive de fazer o jogo sujo. Levantei a cabeça e disse: "se é pra ser baixo, deixa comigo, que eu fui criado foi no terceiro mundo!" Dei um chega pra lá na velhinha que tava disputando comigo o último pedaço de salmão da promoção. com um golpe de quadril tirei a velhinha do raio de alcance do salmão, depois, com uma das mãos, rapidamente alcancei a mercadoria e prontamente abracei-a junto ao meu corpo. Como a selva é dos mais fortes, jantei salmão hoje... se tô com remorços? Que nada, sábado que vem eu vou é empurrar com mais força! Os velhinhos são espertos, deixam as cestas na fila do caixa, e vão colocando as coisas dentro da cesta. As cinco um sino bate, aí todo mundo corre pra fila, pega sua cesta e começa a pagar.É claro que aqui não tem fila preferencial pra velhinhos. Até porque aqui SÓ tem velhinhos. Hoje, tirando eu e a tailandesa, o mais menino no supermercado devia ter oitenta anos. E o pior é que os velhinhos daqui vivem muito, e eles vão encolhendo com o tempo, vão encurvando, encurvando... acho que aqui eles não morrem não, quando encurvam bastante coloca-se em um envelope e sela. Bom, mas também é verdade que os velhinhos aqui são bem ativos. Os empregos que ninguém quer, são eles que fazem. É, eles trabalham até os 100 aqui meu amigo! O cara aposenta e aí arranja um emprego desses que ninguém quer. Mas enfim, já falei muito hoje, beijos a todos, mas principalmente pra Rebecca, minha sobrinha que fez aniversário ontem, e a Larissa, minha sobrinha que faz aniversário hoje!

RESPONDENDO:

Saulo: Pois é, o casamento não vai dar pra assisir. Também não prometo assistir o vídeo (deve ser DVD né?) depois, porque é a segunda coisa mais chata do mundo de ver na TV, depois de ultrassonografia de primeiro filho de pais de classe média. Mas estarei com voces em coração e pensamento próximo sábado! AH!!, e ouvi na CBN que os policiais do DF tiveram aumento.... Daqui a pouco soldado tá ganhando mais do que juiz!


Gabi Terra: Ê, apareceu!! Agora pra ler tudo que passou vai dar um trabalho... E aí, continua cantando? Coloca uns vídeos de você cantando aí no youtube da vida pra gente ver!! Beijos,

Rafael: Hum, não, Core não é curry, é tipo "isso". Então é "isso aqui é apimentado!" Um Abraço!