terça-feira, 11 de novembro de 2008

As algemas de Chen Shui-bian

Boas. Hoje é dia de aula de japonês a partir das 10:30, e depois mais aulas com Doi San, das 13:00 até as 15:00. Nesse intervalo tem o almoço, mas eu sempre vou para a biblioteca antes e espero uma meia horinha para não pegar filas. Nesse meio tempo eu fico lendo os jornais, que no meu caso, por uma questão técnica (eu não consigo ler os jornais em japonês) se limitam aos jornais em inglês, o Herald Tribune e o New York Times. Bem, hoje na capa do Herald Tribune tinha uma foto que me chamou a atenção, essa aí que você vê. É o ex-presidente de Taiwan, sendo preso e, para o meu espanto, algemado. Digo para o meu espanto porque, como bom brasileiro que sou, aprendi com os ilustríssimos senhores juízes do tribunal superior de meu país que algema não é coisa que se use assim, só em "caso de resistência e de fundado receio de fuga..." Eu não acho que eles lá em Taiwan estivessem com medo de que o ex-presidente fosse sair correndo no meio da rua, ou que fosse dar uns tapas na cara dos policiais. Acho que eles usaram a algema lá porque entendem, como o resto do mundo, que algema é símbolo de justiça, de dever cumprido, de separação entre o elemento que quebra a lei e o que vive de acordo com ela. Mas...
Mas o que me impressiona mesmo na foto é que o ex-presidente, Chen Shui-bian não está escondendo as algemas, não as colocou sob uma camisa ou toalha, como os gatunos de cá, pelo contrário, ele as está mostrando, aí eu pensei, hum, o que isso quer dizer?
Eu acho que ele tá querendo dizer que é inocente. Nesse caso as algemas se tornam um símbolo de injustiça. E ele as mostra, porque se for inocente mesmo, a vergonha de estar usando as algemas não é dele, mas do Estado que as colocou em um inocente, do Estado perseguidor, policialesco. É por isso que ele faz questão de as levantar bem alto, para que todos vejam suas algemas, e julguem se elas são um símbolo de justiça ou injustiça, para que julguem sobre quem elas estão trazendo vergonha, para o criminoso, ou para o Estado perseguidor.
Mas graças a Deus, digo, graças aos deuses (os de toga preta) nos no Brasil não precisamos nos preocupar com essas coisas. A única coisa que temos é a não algema para os ricos, impunidade, nosso símbolo maior.


Respondendo:

Rafael: acho que não hein, mesmo pra japonês aquele buraco era pequeno demais!

Kobelus: vidro de perfume com certeza não é...

Um comentário:

Koběluš disse...

pois é sensei,
no nosso país um ladrão-de-galinha é espancado pelos policiais,preso e humilhado; enquanto os caras que desviam milhões de verba responde às acusações em liberdade e se ouvir o som de um par de algemas já faz um escarcéu.
Tem até uma certa coincidência nisso que você falou do símbolo da justiça com o Brasil: aqui a justiça simbolizada pelas algemas só alcança os peixes pequenos (ainda assim de uma forma tão ruim que seria melhor deixar eles soltos à levá-los pras prisões, onde aprendem a ser mais que ladrões-de-galinha) e os grandes ficam por conta de uma prisão domiciliar ou afastamento do cargo.
sinistro demais...

abraço cara