quinta-feira, 6 de novembro de 2008

os gatos nascem pobres, mas nascem livres...

O post de hoje é o resultado dos comentários de dois leitores do blog.

Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Artigo primeiro da declaração universal dos direitos do homem. Os caras eram bons. Tiveram o cuidado em dizer que as pessoas nascem iguais em DIGNIDADE e DIREITOS, mas não disseram que as pessoas nascem iguais, porque não nascem. Nascem diferentes, e é bom que seja assim.

A coisa mais chata aqui no Japão é a padronização. Até os diferentes são diferentes em bandos, e quando se olha o bando se vê que são iguaizinhos em sua diferença. Um saco. Onde quer que se vá os shoppings são iguais. As estações de trem, iguais. As marcas, iguais. E o Brasil?
Puxa, no Brasil já foi diferente. Eu recebi um email de um colega do tempo do meu 2o grau no Leonardo da Vinci. Escola grande, havia umas dez ou onze turmas diferentes, mas todo mundo falava com todo mundo. Naquela época os alunos não usavam uniformes, e adolescentes que éramos aproveitávamos para mostrar um pouco da nossa originalidade ou preguiça. No meu caso, por preguiça, eu vagava sempre com uma calça de moleton e uma sandália, fácil de calçar nos atrasos das manhãs sonolentas. Esse meu colega, o Diego, (claro que lembro, BIAFRA! hehehe) pelo que me lembro, era mais arrumadinho, coisa e tal. Havia ainda uns cabeludos, umas patricinhas, uns maconheiros, playboys da capoeira, éramos todos amigos, diferentes e tolerantes aí com nossas diferenças. Todo mundo se impressiona quando ouve que a gente é amigo e se fala até hoje.
Quando eu voltei de Campinas após 4 anos de faculdade e mais 2 de mestrado, me espantei em ver que as escolas em Brasília adotavam uniformes. Até hoje acho isso um pecado. A escola quer porque quer fazer todo mundo igual. A escola tenta matar as diferenças, podar os alunos, adestrar as novas peças para o mercado de trabalho e para a sociedade chata em que vivemos. É por isso que quando saem das escolas os alunos são presenteados com uma "formatura" ou seja, aí estão, todos na mesma fôrma.
Quando eu era esse aluno de 2o grau, a gente também sonhava. Uns queriam ser músicos, eu queria ser arqueólogo, outro queria ser médico, uma amiga virou bailarina, e assim a coisa ia. Outro dia recebi o comentário de uma ex aluna, meio que frustrada meio que sem forças, constatando o que todo mundo já sabe: hoje ninguém sonha mais, só queremos ser funcionários públicos.
Eu em pergunto, quando foi que a gente deixou que o nosso país começasse a roubar os sonhos da nossa juventude? Quando foi que a gente passou a achar normal que os nossos filhos não pudessem mais sonhar com profissões, mas que tivessem de se contentar com empregos, bem remunerados, é verdade, mas empregos? Eu não sei, mas sei que a gente perdeu a mão. Tudo é normal. A violência absurda, o político ladrão, uma escola sem imaginação, adolescentes concurseiros. Parece exagero, mas me lembra um poema do maiakóvsky "Na primeira noite eles se aproximam, roubam uma flor de nosso jardim e não dizemos nada. Na segunda noite já não se escondem: pisam nas flores, matam nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, roubam-nos a lua e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta, e porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada." As pessoas são diferentes. Nós temos o direito de sermos diferentes. Se não nos tivessem roubado a voz, poderíamos até gritar isso por aí.

Kobelus: POde crer, Edris pra presidente!

Sams: Saudades, e OBRIGADO!!!

Larissa: hehe, titio, culto, sei, sei, menos, menos. Não corre muito não querida, " a vida é o que acontece com a gente enquanto a gente tá ocupado fazendo planos" John Lennon!

Sarah: Foi realmente empolgante. Você vê que o mundo melhorou, a crise de 29 gerou Hitler e Mussolini, a de 2008 gerou Obama!

5 comentários:

Dinofours disse...

caraca david. Muito bom, muito bom mesmo. Muito bem falado.

Anônimo disse...

Que comentário´foi esse, Mestre...
Seu blog virou fonte de inspiração.
=]
Vai continuar com ele mesmo depois de voltar do Japão, ne? Com uma abordagem meio diferente, eu suporia...

Pois é, mesmo que as vezes bata uma decepçãozinha, eu continuo. Fui até atrás de PIBIC (PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA), olha só!

Sempre me impressionou esse poema, mas não sbia de quem era. Agora tenhu um nome pra descobrir quem foi o autor...

Besos, Maestro!!!!!

Koběluš disse...

Pois é,
O pior é que muitos professores não têm dado muito exemplo. Tenho tantos professores que foram fazer concurso público. Tá certo que a maioria é relacionado a área deles, mas grande parte eu sou obrigado a ouvir os comentários de que vão fazer o concurso por que tem um salário alto ou poucas horas de trabalho.
A mente das pessoas de Brasília é voltada pra competição. Eu achei muito extranho quando eu cheguei aqui e vi que ninguém dava bom dia pros porteiros, bedel de escola ou caixa de supermercado. Foi depois que eu descobri que muita gente de fora achava a mesma coisa.
O foco das pessoas aqui é conquistar e quem estiver próximo é concorrente. Muito sinistro!
Um adolescente que não sabe que carrera seguir, logo se torna concurseiro.
Fazer o que?
Boto fé no que falaram aí, acho que você deveria continuar o blog quando voltasse
abraço

t. disse...

Eu gostaria de chegar aqui e dizer todas aquelas coisas mega "sou diferente da maioria", mas isso seria mentira. Eu realmente apóio tudo o que vc disse.. mas me admito como um desses jovens. A visão de mundo é tão prática, quando deveria ser romantizada, no mínimo.
Em um país capitalista pobre como o Brasil nós somos treinados para querer apenas o que compensa monetariamente..
Quem sabe n é esse o problema...

Elienai Allebrandt disse...

David, acho totalmente normal os jovens de Brasília quererem ser concurseiros, assim como os de Curitiba querem trabalhar nas melhores empresas daqui e os de outras cidades buscam o melhor delas, não há nada de errado em buscar um melhor salário aliado a uma melhor qualidade de vida.
O que é errado é que no nosso país tenhamos professores ganhando tão mal e sendo tão desvalorizados, assim como outras profissões, com certeza se estas profissões fossem valorizadas teríamos nossos jovens buscando por elas.
E esse negócio que comentaram que em Brasília não se dá bom dia pra porteiro e bedel, pode ter certeza que não é "privilégio" candango,e nem por consequencia da concorrência dos concursos, isto é por causa da falta de educação geral e está em todos grandes centros urbanos do país.