terça-feira, 7 de outubro de 2008

Deste Chá Não Beberei


Tudo na vida é uma questão de costume. Ou, se preferirem um ponto de vista mais biológico, uma questão de adaptação. Vejam os senhores o seguinte caso.
Quando cheguei aqui no Japão, há pouco mais de um ano atrás, levei dois choques no campo gastronômico. Choquei-me com o arroz e com o chá.
Quando era eu ainda um jovem estudante de história na Unicamp, nós todos dávamos graças a Deus porque no Bandejão de lá nos serviam suco. É que no Bandejão da USP a bebida era leite. Parecia-nos infinitamente melhor almoçar tomando suco do que almoçar tomando leite. É bem verdade que nunca sabíamos ao certo qual era o sabor do referido suco, por isso nos referíamos a ele pela cor, assim o diálogo era "hoje tem suco de quê?" "Ah, hoje é suco de vermelho" ou "Hoje é suco de amarelo." Era ruim mas não era leite. Aqui no Japão meu espanto foi ter de tomar chá verde, quente, no lugar do nosso popular suco. E é claro que o chá é sem qualquer adição de açúcar, a simples menção de se colocar açúcar no chá aqui é visto como um sacrilégio pior do que, digamos, jogar pedras na cruz. Quando vi que o bandejão aqui servia chá, fiquei com inveja do bandejão da USP. Preferiria leite.
Outro probleminha que eu tive foi com o arroz. Vejam que meus problemas eram simplesmente com dois símbolos nacionais, o chá e o arroz. Para vocês terem uma idéia, digamos que o chá e o arroz estão para o Japão como o futebol e o samba ou, para mantermos o paralelismo gastronômico, como a feijoada e a caipirinha estão para o Brasil. Mas o que se há de fazer, não gostei do arroz. O arroz japonês é cozinhado daquele jeito meio grudento, mas esse não é o maior problema, o duro mesmo é que não há, não pode haver, qualquer adição de tempero ao arroz, nada de sal, azeite, pimenta, nada: ele deve ser degustado naturalmente, para que se possa perceber todo o seu sabor. Eu simplesmente não aguentava, tacava um shoyo, pimenta, sal, tudo que dava, pra ver se pegava um gostinho, mas era difícil. Tive ainda de parar de adicionar coisas ao arroz porque percebi que os japas não gostavam de ver o gaijin tacando coisas no arroz (a única coisa que se pode adicionar é aquele troço que aqui eles chamam de sassame, e que eu nunca soube o nome em português e mesmo no Brasil só chamo de alpiste de gente.) Eles não gostam que se adicione nada ao arroz porque o arroz é o mais sagrado dos alimentos, eles o comem de manhã, no almoço e no jantar, aliás na língua japonesa café da manhã, almoço e janta é, traduzindo, algo como "arroz da manhã, arroz e arroz da noite."
Mas hoje, como disse, passados um ano e uma besteirnha, me peguei no bandejão pensando "putz, ese arroz tá bom" foi aí que caiu a ficha, era o arroz como os japoneses comem, sem nada, sem tempero algum, e que eu já venho comendo há algum tempo e que hoje, para meu espanto, me peguei gostando. Achei engraçado e fui pegar mais um copo de chá para acompanhar, e no caminho fui pensando que a gente nunca deve dizer "desta água", ou melhor, "deste chá não beberei." É tudo uma questão de costume ou, se preferirem, de adaptação.

PS: NA foto sou eu, em Kyoto, em uma tradicional cerimônia do chá japonesa, bebendo e adorando uma tigela de chá verde.

LU: Putz, num lembra desse óculos que me bate UMA RRRRRRAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIVAAAAA!! Beijos :)


Kobelus: Gostei do respeito ao estandarte do flamengo, "aquela bandeira vermelho e preta" você evitou falar o nome da bandeira do mengão em vão, muito bom!

5 comentários:

Unknown disse...

Estou começando a me preocupar seriamente com vc...Achar bom chá verde é demais!!! É como passar a apreciar chá de boldo, que apesar de ter tomado a vida toda, nunca consegui achar isso bom (argh!) Quanto aos docinhos, acho bom vc aprender com os orientais esse altruísmo e obviamente, quando do seu retorno, nos presentear com muitos docinhos saborosos.... Afinal, a sua viagem está durando muuuuuiiiito tempo e a sua diversão está sendo muuuuuuuuuuiiiito longa!!!

Koběluš disse...

Tá louco!?
não foi respeito, é que eu não costumo falar palavreados sem motivo.
Se fosse "santo nome" o capeta não era vermelho e as trevas pretas.

Rapaz esse negócio é sério...quando você voltar não vai conseguir comer nada, pois vai achar muito temperado ou muito doce.

abraço David san

Thaís Batalha . disse...

Coformismo, eu diria.
É o tal do costume, mas calam. Quando você voltar ao Brasil, você lembrará o que é um arroz gostoso e pensanra, putz! o que que o tal do costume não faz, né?!
kkkkkkkkkkkkkkk

Sarah Nogueira disse...

Viu, eu sei cozinhar!!! Só estou no país errado!!!

Unknown disse...

vê não se acostuma muito com as coisas daí,porque aí você não vai querer voltar pra cá mais não! sinta saudades de uma booa feijoada, com todos aqueles temperos! ashiauhsiuahsiuahsa :*