quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Pão ou pães é questão de opiniães!


Boas. Outro dia me perguntaram o que eu penso sobre a reforma ortográfica que tá rolando aí no Brasil. Engraçado que quando se está em uma condição assim como a minha, sem se poder falar o idioma "mãe" a gente acaba refletindo mesmo mais sobre essas coisas. É que por mais que se fale bem um idioma, você nunca consegue se expressar com as riquezas e nuances com que você se expressa na sua língua. E é engraçado como o idioma acaba refletindo o jeito de ser do povo. A língua realmente é a pátria. Por exemplo:
Outro dia eu tava no trem e vi um cartaz onde estava escrito 間違う。Eu não sabia o que era então puxei o meu dicionário e vi que é a palavra "matigau" ou "erro" em japonês. O detalhe é que, como vocês podem ver, há dois caracteres para se formar essa palavra. O primeiro significa espaço, o segundo significa diferença. Pronto, pro japonês o espaço onde há diferença é um erro. Talvez por isso eles se esforcem tanto para não sobressair, para serem iguais...
O português é a quarta língua mais falada do mundo, muito graças a nós, é verdade, e a concordância em alguns detalhes pode facilitar ainda mais o contato entre os países de língua portuguesa. Mas sou contra a tal reforma. Primeiro porque a língua é viva, e vai se transformando. As regras podem até padronizar um português formal (aquele que a gente não sabe escrever direito) mas nunca vai conseguir padronizar o que as pessoas falam na rua. Além disso parece que dessa vez o trema cai mesmo. Ele já vem caindo aos poucos, coitado, e seu uso já é facultativo em muitos casos. Acho uma pena. Eu, de minha parte, não agüento escrever sem o trema, e continuarei a usá-lo. Agüentarei as conseqüências. Por fim, depois de 500 anos o nosso idioma se transformou em um português com a nossa cara, que mostra um pouco da personalidade do brasileiro. Eu já falei aqui por exemplo do nosso apreço pelos diminutivos. Como falei, acho que a língua diz muito do caráter do povo. E nós não somos portugueses, ou angolanos, ou timorenses. Somos brasileiros.
Mas se o governo quer mesmo facilitar o aprendizado do português, pode começar dando educação pra massa que não consegue ler e compreender um jornal. Isso sim é importante. O resto são detalhes. Como disse o escritor brasileiro Guimarães Rosa, pão ou pães é questão de opiniães!

Um comentário:

Unknown disse...

David,
aproveite o frio aí pq aqui em bsb a temperatura já ultrapassou as de Teresina... tá insuportavelmente quente!!!
bjks